Damnatio Memoriae: como os Romanos apagavam as pessoas da História?

Enquanto alguns imperadores foram elevados como deuses após a morte, outros tiveram o destino oposto: a memória condenada através da sanção damnatio memoriae. Mas será que realmente era possível apagar o passado e as pessoas que fizeram parte da História? Descubra abaixo.

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Descubra o que era damnatio memoriae.

O que era Damnatio Memoriae?

Era a condenação da memória de uma pessoa, no sentido de que ela não deveria ser lembrada. Para isso, todas as estátuas, moedas, etc., que se referiam a ela eram destruídas para apagá-la da História, como se nunca tivesse existido.

Era uma forma de desonra aprovada pelo Senado Romano contra traidores ou outros que trouxessem descrédito ao Estado Romano. Todo traço da vida da pessoa era apagado para preservar a honra da cidade. E numa cidade que enfatizava a aparência social, a respeitabilidade e o orgulho de ser um verdadeiro romano como requisito fundamental do cidadão, talvez fosse o castigo mais severo de todos!

Isso funcionava?

Numa época em que a documentação era muito mais escassa do que hoje em dia, é de se pensar que apagar uma pessoa da História era uma tarefa mais fácil. E até podia ser, mas nem sempre funcionava. Por exemplo, entre os imperadores que sofreram damnatio memoriae estão algumas das figuras mais conhecidas da história romana, incluindo Calígula e Nero!

A notoriedade destes homens chega-nos não só a partir de textos escritos em vida e posteriormente, mas também de imagens que sobreviveram à violência imediata de damnatio memoriae e depois a séculos de negligência.

Um retrato de mármore sobrevivente preserva não só a imagem de Calígula, mas também vestígios de pintura, informando-nos da existência deste imperador condenado, bem como da policromia da escultura antiga. Na antiguidade, esse tipo de imagem demonstrava uma pessoa poderosa, que representava o império.

Muitas estátuas feitas em mármores luxuosos ou metais preciosos não eram destruídas, mas sim reutilizadas para a criação de estátuas de imperadores sucessores.

Assim, uma investigação atenta dos retratos de imperadores como Cláudio e Nerva frequentemente revela detalhes de retrabalho (geralmente ao redor das orelhas e na parte de trás da cabeça) que indicam que esses foram retratos dos condenados Calígula e Domiciano, por exemplo. Este foi um processo altamente técnico que serviu para silenciar de forma mais enfática a memória da tirania.

Já outros imperadores, como Cômodo, teve sua morte tão celebrada pelos romanos e suas imagens atacadas com tanto entusiasmo que raramente arqueólogos conseguem recuperar uma estátua intacta ou uma inscrição deste imperador.

Damnatio memoriae nas moedas antigas

Não eram apenas as estátuas que eram modificadas. Abaixo você confere moedas de algumas personalidades que sofreram damnatio memoriae.

Sejano

Moeda de Tibério com legenda de Sejano apagada.
Moeda do imperador Tibério com o nome de Sejano removido em damnatio memoriae.

A primeira pessoa a experienciar damnatio memoriae foi Sejano, amigo e conselheiro do imperador Tibério, acusado de conspirar contra o governante para tomar o trono.

Antes da condenação, Sejano foi comandante da poderosa guarda pretoriana e cônsul. Ele também provavelmente foi o assassino de Druso, filho e herdeiro de Tibério. Seu nome apareceu em diversas moedas das colônias romanas na época do consulado. Depois que foi condenado e estrangulado em 31 d.C., seu nome foi apagado das inscrições, inclusive de moedas.

Calígula

Quando o paranoico Tibério morreu em 37 d.C., os romanos saudaram com entusiasmo a ascensão de seu sobrinho-neto Calígula. Mas o horror logo se instalou quando a loucura passou a dominar seu comportamento.

Dois anos após seu assassinato em 41 d.C., o senado aprovou que todas as moedas de bronze de Calígula fossem derretidas. Entretanto, a escassez de pequenas moedas na economia romana fez com que isso nunca acontecesse de fato. Por isso, muitas moedas de Calígula sobreviveram, raramente com o rosto ou nome desfigurado.

Moeda de Calígula com cortes em seu retrato.
Moeda de Calígula com cortes em seu retrato.

Nero

Sem contar a devassidão e loucura de que foi acusado — e que podem ter sido exageradas pelos escritores antigos por razões políticas —, Nero era profundamente impopular com a nobreza e a classe política. E isso acabou levando à sua ruína. Nero se suicidou em 9 de junho de 68 d.C., quando o exército rebelde de Galba se aproximava.

Um possível caso de condenação de sua memória pode ser visto no sestércio de bronze abaixo, cunhado em Roma por volta de 66 d.C. e desfigurado na antiguidade.

Moeda de Nero em possível tentativa de damnatio memoriae.

Vitélio

Durante o caótico “Ano dos Quatro Imperadores” que se seguiu à morte de Nero, Aulo Vitélio, que havia comandado as legiões na fronteira do Reno, manteve o poder em Roma por oito meses.

Quando as legiões orientais se revoltaram, sob o popular general Vespasiano, Vitélio foi abandonado por muitos de seus partidários, derrubado em sangrentas lutas de rua na capital e executado.

Este denário abaixo é um exemplo de desfiguração violenta do retrato de Vitélio, que foi quase completamente apagado por múltiplos cortes de cinzel.

Moeda do imperador Vitélio com cortes violentos em damnatio memoriae.

Geta

Geta (209-211 d.C.) era o irmão um ano mais novo de “Caracala” (198-217 d.C.) — apelido pelo qual o mau imperador Marco Aurélio Antonino é conhecido na história para evitar a confusão com o bom imperador Marco Aurélio (161-180 d.C.).

Ambos eram filhos de Sétimo Severo (193-211 d.C.) e Julia Domna. Quando o pai deles morreu em fevereiro de 211, depois que as tentativas de governo conjunto fracassaram, Geta foi assassinado por ordem de Caracala em dezembro do mesmo ano. E uma campanha em todo o império foi lançada pelo imperador para apagar oficialmente o nome e a imagem de Geta.

Grandes moedas de bronze de cidades provinciais romanas no Oriente muitas vezes representavam os dois jovens irmãos lado a lado para homenagear a família imperial. Em muitas dessas moedas, o retrato de Geta foi condenado a damnatio memoriae por marteladas.

Moeda romana com busto de Geta apagado.
Busto de Geta apagado em frente ao busto de Caracala.

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