O imperador Cômodo entrou para a história como um dos piores imperadores romanos. Mimado e indulgente, ele se moldou como um gladiador onipotente que gostava de matar por esporte, mas que escolhia batalhas com competidores fracos e indefesos, sabendo que venceria.
Confira abaixo os episódios mais marcantes sobre esse cruel — e fascinante — imperador.
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Origem do imperador Cômodo
Cômodo era um dos 13 filhos biológicos do imperador Marco Aurélio e de sua esposa, a imperatriz-consorte, Faustina, a Jovem (filha do antecessor do marido, o imperador Antonino Pio).
Nasceu Lúcio Aurélio Cômodo, em Lanúvio, no ano de 161 d.C. Ele teve um irmão gêmeo mais velho por nascimento, Tito, que faleceu em 165. Cômodo foi o único filho homem do casal real a sobreviver até a idade adulta.
Depois, da perda de Tito, Marco Aurélio quis deixar bastante claro que seu filho Cômodo seria o herdeiro do trono. Assim sendo, tomou uma série de medidas para que o povo romano e os exércitos provinciais soubessem que a rota da sucessão imperial seria sanguínea e não por adoção (diferente dos reinados anteriores, inclusive o seu próprio).
Em 172 d.C., quando tinha apenas 11 anos, Cômodo se juntou a seu pai em uma campanha em Carnunto (no leste da Áustria moderna). Este foi o quartel-general do imperador Marco Aurélio durante a Guerra Marcomânica, enquanto o império lutava contra as incursões feitas por tribos germânicas. Em outubro daquele ano, Cômodo foi agraciado com o título Germanicus ao lado de seu pai. Seu papel como líder do exército e como comandante triunfal romano já estava sendo estabelecido.
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Ascensão ao Poder
Como seu pai antes dele, Cômodo desfrutou de uma educação aristocrática romana exemplar, focada em criar uma criança apta a governar o poderoso império romano. Quando tinha 15 anos, seu pai o nomeou co-imperador e o ungiu como seu sucessor. Segundo algumas fontes antigas, já era evidente que o jovem era inadequado para ocupar tal cargo. De acordo com Aelius Lampridius, um dos historiadores antigos ficcionais apontados como autores da História Augusta, “desde os primeiros anos, ele era vil e desonroso, cruel e lascivo, de boca suja, além disso, e debochado”. (Mas é preciso lembrar que a História Augusta não é uma fonte histórica completamente confiável e que há muito tempo historiadores discutem o que é real e o que é ficção nesse conjunto de biografias).
Em 178, aos 16 anos, Cômodo casou-se com a bela Bruta Crispina, jovem de origem aristocrática. Ele não gostava da esposa, provavelmente porque a achava vaidosa e arrogante. Após dez anos de casamento, e 188, Crispina seria acusada de adultério, banida para a ilha de Capri e executada.
Quando o amplamente amado Marco Aurélio morreu em 180, Cômodo tornou-se o único imperador aos 18 anos. Há rumores de que ele pode ter tido uma mão na morte do pai, porém, os historiadores não acreditam nessa hipótese. Marco Aurélio provavelmente morreu devido à Peste Antonina.
A morte de Marco Aurélio — e consequentemente o início do reinado de Cômodo — é considerada o fim do famoso período da Pax Romana.
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Governo (180-192 d.C.)
Assim que assumiu o governo, o jovem imperador Cômodo decidiu acabar com a guerra iniciada por seu pai, fazendo um tratado de paz com as tribos germânicas. Essa resolução não foi bem aceita pela elite romana e pelos apoiadores do antigo imperador.
Cômodo desfrutava das muitas vantagens de seu ofício, mas tinha pouco interesse em fazer qualquer trabalho envolvido. Em vez disso, ele delegou a administração do império, das províncias e dos exércitos a uma série de pessoas capacitadas. Quando ele parava de confiar nelas, ele as matava — muitas vezes de forma horrível — e nomeava outras para os cargos.
Isso, com sua riqueza imensurável, deu a Cômodo muitas oportunidades de perseguir outras paixões. Ele tinha até mesmo um harém de 300 mulheres e 300 homens na região de Lanúvio, onde vivia numa festa constante, especialmente nos últimos anos de seu reinado. Mas seu principal interesse era assistir a competições de gladiadores e participar delas.
Os surtos e a obsessão por Hércules
Seu gosto pelas lutas na arena poderia não ter sido ridicularizado ou criticado em âmbito particular. Mas Cômodo quis ser o imperador gladiador, lutando publicamente como um escravo. E isso era motivo de vergonha para os espectadores senatoriais dos combates, deixando a elite romana perplexa ao ver seu imperador se rebaixar a esse nível.
O imperador Cômodo participou de cerca de 700 combates, onde matou inúmeros homens feridos e animais em posição de desvantagem. Segundo Cássio Dio, historiador mais confiável de seu tempo, certa vez, Cômodo matou 100 ursos, espetando-os da segurança da varanda da arena.
Em outro momento, ele reuniu um grande número de homens que haviam perdido os pés, vestiu-os como serpentes, deu-lhes esponjas para atirar nele em vez de pedras e os espancou até a morte, fingindo que eram gigantes.
Cômodo, parece ter sido mais cuidadoso com gladiadores de verdade, nunca matando nenhum, mas cortando a orelha ou o nariz em algumas ocasiões. Claro, eles tinham o bom senso de deixar o imperador ganhar as lutas.
Ao todo, Cômodo alegou ter vencido cerca de 12.000 competições na arena, enquanto também se gabava de ter feito isso com a mão esquerda.
Ao lado de suas façanhas na arena, o imperador cultivou uma forte associação com o culto de Hércules. Assim que se convenceu de que era a reencarnação do herói, gastou enormes somas para convencer o resto de Roma.
Ele removeu a cabeça de Nero do Colosso de Nero, uma estátua de bronze de 30 metros que ficava perto do Coliseu, e a substituiu por uma réplica de sua própria cabeça. Ele também equipou a estátua com um porrete e colocou um leão de bronze a seus pés para reforçar a comparação com Hércules.
Sua obsessão pelo herói era tanta que chegou até a lutar com armaduras e armas que o representavam, assim como aparecer no Senado com suas vestimentas. A iconografia de Cômodo mostra uma ênfase consistente em apresentar o imperador como Hércules.
Entre outras loucuras, Cômodo decidiu renomear os meses do ano — todos em sua própria homenagem. Agosto, por exemplo, tornou-se Cômodo, e outubro, Hércules. E quando o fogo devastou Roma em 191, ele viu a oportunidade de renomear a cidade como Colônia de Cômodo.
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As conspirações pela sua morte
A loucura de Cômodo lhe rendeu o ódio da elite romana, embora poucos ousassem desafiá-lo publicamente ou vivessem muito se o fizessem. Assim, começaram a surgir conspirações para seu assassinato.
A mais importante foi armada por sua própria irmã, Lucila, em 182. Ele sobreviveu a essa tentativa de assassinato quando o pretenso assassino anunciou suas intenções antes que pudesse usar sua espada, sendo atacado pelos guardas imperais.
Cômodo fez com que ele e vários outros, culpados ou não, fossem assassinados em retaliação. Ele mandou sua irmã para o exílio por um breve período, onde ela foi executada pouco tempo depois.
Ele ainda sofreu outra tentativa de assassinato falha em 187.
A morte do imperador Cômodo
Em 192, os conspiradores se saíram melhor. Dois de seus oficiais de alto escalão, com a ajuda de sua amante favorita, Márcia, primeiro o envenenaram (com vinho ou carne, dependendo do relato). Quando isso não funcionou, o gladiador Narciso o estrangulou. Assim, Cômodo morreu aos 31 anos em 31 de dezembro sem deixar herdeiros.
No 1º dia de 193, o prefeito de Roma, Pertinax, foi nomeado imperador pelo senado. Mas ele não governaria por muito tempo: 193 d.C. é conhecido como o ano dos 5 imperadores, quando alguns pretendentes disputaram o cargo até a vitória definitiva de Sétimo Severo, fundador da dinastia Severa.
Cômodo: o pior imperador romano de todos?
O historiador e professor da Universidade Cornell, Barry Strauss (autor de “A morte de César”, entre outros livros), aponta que, por piores que Calígula e Nero tenham se tornado, ambos começaram seus reinados gozando de boa estima dos romanos, enquanto “Cômodo começou ruim” — e permaneceu assim.
Em particular, suas travessuras na arena eram inadequadas para seu papel como governante. “Se Cômodo não foi o pior imperador da história romana antiga”, afirma Strauss, “ele certamente foi o mais indigno aos olhos da elite romana”.
Já o autor Phillip Barlag é categórico em seu livro de 2021, “Evil Roman Emperors: The Shocking History of Ancient Rome’s Most Wicked Rulers from Caligula to Nero and More”, concedendo ao imperador Cômodo o primeiro lugar e chamando-o de “idiota autoindulgente e estúpido”.
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