Sísifo e sua inútil tarefa eterna

O mito de Sísifo é um dos mais conhecidos da mitologia grega. Isso graças à sua grande façanha — a de enganar a morte duas vezes! — e ao castigo que o aguardava por toda a eternidade! Confira tudo abaixo.

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Conheça o mito de Sísifo.

Quem era Sísifo?

Sísifo era o fundador e primeiro rei de Éfira (Corinto) na mitologia grega, considerado o mais inteligente e astuto dos mortais! Ele era filho do rei Éolo, da Tessália, e Enarete. Sua esposa era a ninfa Mérope, com quem teve quatro filhos; Glaucus, Ornytion, Almus e Thersander. Ele também era avô de Belerofonte, o herói que capturou e domou Pégaso, o cavalo alado mitológico!

Sua história tem versões múltiplas e muitas vezes contraditórias com embelezamentos adicionados ao longo do tempo para que o único ponto de certeza seja seu terrível castigo!

Estáter de Corinto.
Estáter de Corinto, uma das moedas gregas mais desejadas pelos colecionadores. Cunhado entre 400-375, mostra o Pégaso no anverso e a deusa Atena no reverso.

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Dedurando Zeus

De acordo com uma das histórias sobre Sísifo, certa vez Zeus, o maior de todos os deuses, levou Egina, uma mulher mortal que era filha de Asopo. Sísifo testemunhou esse sequestro.

Ele então concordou em informar Asopo sobre quem havia sequestrado Egina se Asopo desse à sua cidade uma fonte de água doce. Ao fazer esse acordo e testemunhar contra Zeus, Sísifo ganhou a ira dos deuses enquanto conquistava riqueza e felicidade terrenas para si e seu povo!

Hemidracma que traz o deus grego Zeus,
Hemidracma de bronze raro cunhado por Ptolomeu VIII Eurgetes II (Fiscão) entre 163-145 a.C. No anverso traz Zeus com cabeça diademada. No reverso apresenta o animal sagrado desse deus: águia parada à direita no raio, cabeça direita, asas abertas.

Enganando a morte

Furioso, Zeus enviou Tânatos, a personificação da morte, para levar Sísifo ao submundo. Mas o mortal mais esperto de todos teve uma ideia!

Ele ofereceu um colar como presente a Tânatos, que, na verdade, era uma corrente. Com a façanha, Sísifo então conseguiu escapar da morte pela primeira vez!

Com Tânatos aprisionado, nenhuma pessoa morreu por um tempo. Ares, o deus da Guerra, se enfureceu, pois não há guerras sem mortes. Ele mesmo foi até Corinto para libertar Tânatos, que agora podia cumprir sua missão de levar Sísifo ao mundo inferior de Hades.

Entretanto, o mortal, imaginando que isso poderia acontecer, já havia pedido a sua esposa que ela não lhe prestasse as homenagens fúnebres caso ele morresse. E assim foi feito.

Moeda de Sétimo Severo que traz Tânatos, a personificação grega da morte.
Moeda de bronze do imperador Sétimo Severo cunhada em Nicópolis no Istro em 211 d.C. No reverso, traz Tânatos alado em pé à direita, pernas cruzadas, apoiando-se na tocha invertida à direita colocada em baixo.

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Traindo Hades

No submundo, o mortal foi recebido por Hades e sua esposa, Perséfone. Ele pediu ao deus para deixá-lo voltar ao mundo dos vivos para repreender Mérope, pois ela não o havia enterrado de maneira adequada. Depois de muito insistir, Hades concedeu o desejo, mas exigiu que a visita fosse breve.

Mas é claro que ele usou essa oportunidade para enganar a morte pela segunda vez!

A punição eterna

Ao escapar da morte novamente, ele fugiu com sua esposa e viveu uma vida longa, chegando à velhice. Porém, como todo mortal, uma hora teve que ir ao mundo dos mortos.

Quando chegou, foi recebido pelos deuses que ele havia enganado. Ganhou então um castigo pior do que a própria morte: o de realizar um trabalho cansativo e sem nenhum propósito por toda a eternidade!

Todos os dias, sua tarefa consistia em rolar uma pedra enorme da base até o topo da colina. Só que quando chegava ao topo, a pedra rolava morro abaixo e ele tinha que recomeçar seu trabalho.

Trabalho de sísifo retratado em representação artística.
Arte de Sir Edward Coley Burne-Jones, 1870.

O condenado parou sua tarefa exaustiva apenas uma vez. Orfeu, poeta e músico, desceu ao Hades à procura de Eurídice, sua esposa que havia morrido após ser picada por uma serpente. Quando Orfeu tocou sua música triste e bela sobre Eurídice, como que por encanto, a pedra de repente ficou parada, sem ninguém a segurar.

Significado de Sísifo

Assim, a expressão “trabalho de Sísifo” — que remonta desde a Grécia Antiga — ganhou significado sendo referida como uma tarefa ou situação inútil e interminável!

Sísifo na Odisseia

Nesse grande poema épico datado dos séculos IX e VII a.C., Homero escreveu sobre o famoso herói Odisseu, rei de Ítaca. Incapaz de voltar para casa, Odisseu (Ulisses para os romanos) viajou ao submundo para consultar um poeta cego chamado Tirésias, que teve a sabedoria de guiá-lo de volta ao seu lar.

Enquanto no submundo, Odisseu conheceu o pecador Sísifo, condenado a empurrar uma enorme pedra para o topo de uma colina. Assim que a pedra chegava ao topo, ela rolava para baixo. Sísifo tinha de recomeçar seu dever, sabendo que estava indefinidamente vinculado a essa tarefa infrutífera.

Homero descreveu o sofrimento de Sísifo com detalhes:

“Vi Sísifo em tormento violento, tentando erguer uma pedra monstruosa com as duas mãos. Na verdade, ele se apoiava com as mãos e os pés e arremessava a pedra em direção ao cume de uma colina, mas sempre que ele estava prestes a lançá-la sobre o topo, o peso a virava de volta e depois descia novamente para a planície rolando implacavelmente. Mas ele se esforçava novamente e a empurrava de volta, e o suor escorria de seus membros e poeira subia de sua cabeça”.

Sísifo no submundo retratado em ânfora grega antiga.

O mito de Sísifo por Albert Camus

A imagem de Sísifo em sua eterna tarefa inútil encontrou aceitação na cultura popular, ganhando interpretações de Homero a Camus. E uma das melhores obras filosóficas é justamente O Mito de Sísifo de Camus, que apresenta uma contribuição significativa para o mundo da filosofia.

Uma das questões filosóficas essenciais é, sem dúvida, esta: qual é o sentido da nossa existência? Essa questão incomodou Camus em muitas de suas obras. Segundo ele, qualquer tentativa de resposta é inútil.

A existência humana é caracterizada pelo sofrimento possível e morte certa — na visão niilista de Camus. No entanto, as pessoas se recusam a aceitar seu destino e continuam a procurar significado. Camus descobriu que há algo extraordinariamente absurdo nessa busca, que ele apropriadamente chamou de Absurdismo. Buscamos ordem e felicidade na vida, mas o universo se recusa a concedê-las. A tensão resultante disso gera o Absurdismo.

Assim, em seu ensaio, Camus relacionou a tarefa de Sísifo com os trabalhos exercidos por grande parte da classe trabalhadora contemporânea em que o trabalhador não vê sentido, mas precisa continuar fazendo para sobreviver.

Ele afirma que o mito só é trágico porque Sísifo é consciente sobre sua tarefa sem propósito. Já o trabalhador, muitas vezes, não tem noção disso. Mas a falta de consciência não faz de sua condição menos absurda.

Pintura que retrata o mito de Sísifo.

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